Procissão do Sagrado Coração - Pataias (Julho 2010) - Foto: Antero Coutinho |
Chegado o Verão, perfilam no calendário do Norte do concelho de Alcobaça inúmeras festas que visam homenagear os santos padroeiros de cada localidade. São elaborados os programas festivos pelas comissões de festas. Definem-se tarefas e delineiam-se estratégias. Até aqui tudo muito certo. Mas quando a crise tem uma palavra a dizer nalgumas áreas tudo deixa de ser tão fácil e assertivo. E, nos últimos anos, parece que a crise tem mais que uma palavra a dizer!
Longe vão os tempos em que cada localidade saia à rua com os seus andores, qual o mais bem ornamentado. Custasse o que custasse, era impensável que o andor de Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora da Vitória, São João Baptista ou São Silvestre, ou até mesmo o de Santa Marta, não fosse o mais resplendoroso. Hoje, mantêm-se o gosto pela decoração única e primorosa… o que mudou foi a abertura dos cordões da bolsa colectiva. Ano após ano, as comissões de festas, talvez de uma forma inconsciente, têm vindo a fazer “emagrecer” as contas na florista. Esta redução acontece, acima de tudo, pela oferta de flores de jardins feita por várias pessoas. Ou seja, à florista já só se paga o trabalho de ornamentar os andores com as flores oferecidas pelos beneméritos. É a crise a falar mais alto que a tradição.
Cristina Pedro, da loja “De Pintora a Florista”, na Martingança, confirmou ao “Pataias à Letra” que “os grandes trabalhos que se faziam há alguns anos já não se fazem”. Este ano, a comerciante apenas enfeitou o andor de Nossa Senhora de Fátima, um “trabalho - incluindo flores - que rondou os 100 euros”. Já para as festas de Pataias, tratou do embelezamento do andor de Santo António, “com flores que várias pessoas colheram dos jardins”. Cristina Pedro confessa que “é mais uma data em que poderíamos vender e não vendemos. É a crise!”. E a comerciante sabe do que fala: “quando vêem pedir para enfeitar um andor pedem sempre bonito mas não muito caro, independentemente de se tratar de dinheiro da Igreja ou não”.
A confirmar esta situação vem a Comissão de Festas de São João Baptista explicar que “tentámos ser razoáveis em todos os aspectos. Não quisemos gastar demasiado porque nunca se sabe como vai correr, mas olhámos para as contas do ano anterior”. Contidos nos gastos, os membros da Comissão de Festas alegam ainda que, relativamente às flores, “não se colocou o valor do ano passado como tecto”. Apesar de ter havido ofertas para andores, a Comissão de Festas teve que comprar flores para dois andores, tentando “comprar flores que não fossem muito vulgares e baratas, mas também não se abusou em comprar flores demasiado caras”. Feitas as contas, o valor gasto foi inferior ao do ano passado, em parte porque um dos membros da Comissão tinha “contactos com fornecedores de flores”.
Em Pataias, verificou-se o mesmo nas Festas do Sagrado Coração. A decoração de cada andor (dos que não foram enfeitados com flores oferecidas) rondou os 80/90 euros, de acordo com a Comissão Organizadora. A ideia base foi a mesma que na Martingança: fazer bonito e barato. E a confirmação desta teoria vem por parte de Fernanda Sousa, proprietária da “Florista Sousa”, em Pataias que, apesar de não ter sido convidada para enfeitar qualquer andor para o Sagrado Coração, reconhece que “as pessoas querem, cada vez mais, gastar menos”. E a comerciante aproveita para lançar um desafio às comissões vindouras: “tentem repartir os andores pelas floristas de Pataias, pois quando é para pedir patrocínios batem a esta porta e têm sido bem recebidos”. É preciso dar para receber… mesmo em tempo de crise!
in edição 10 (Reportagem)
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